sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Memórias: Jorge Filipe Guerreiro (I), o início

Adentrei o micronacionalismo em 29 de Agosto de 2003, no Principado de Sofia, a mais progressista das micronações lusófonas da altura, após uma busca. 

Decidi morar em Port Felice, na província de Portocale, que se pode considerar o meu local de nascimento micronacional. Apesar de ter economia monetarizada, o meu acesso a ela não foi fácil e o meu tutor pouco ativo a médio prazo. Ao mesmo tempo, as listas de emails da Yahoo eram totais desconhecidas e não amigáveis na ótica do utilizador. 

Acabei por me decidir, uma semana depois, pelo Reino Unido de Portugal e Algarves, pelo seu elemento histórico, mas vim a descobrir que este nova micronação era tão ou mais progressista quanto Sofia, mas mais fácil de subir na vida para quem mostra trabalho.

A 19 de Setembro, criei a Oficina da Prosa (que ainda hoje existe), onde editei O Lusitano por mais de 50 edições, e onde tentei as mais mirambolantes ações de promoção, como as Páginas Azuis - um diretório para RUPA, com emails e url, o site Chalet Violeta, um bar restaurante à beira Tejo em Lisboa com um joguinho flash que ainda hoje funcemina e tanta outra maluqueira e quimera. A verdade é que eu mexia e fazia mexer a micronação. Era o meu trabalho, a minha empresa, e a minha ideia era trabalhar como plebeu, ainda que numa micromonarquia. 

O meu nome sempre foi apenas Jorge Filipe Guerreiro ao início, nessa onde de plebeísmo, mas também pelo facto do meu nome macro ser de si enormíssimo, com dois nomes próprios e 4 apelidos (o último do qual composto: Quinta-Nova). 

Logo ao início, o regente e fundador de RUPA, D. Felipe IV d'Feitos começou a chamar-me, por alguma razão que desconheço, Jorge Filipe Roberto. Pois o regente ajudou-me tanto e foi tão hospitaleiro, que ficou Jorge Filipe Roberto Guerreiro. Logo ao início um pouco da magia do mundico que era comum nessa altura. 

Apesar de RUPA ter poucos cidadãos, tinha muitos amigos de outras micronações e toda a gente se encontrava no IRC, bate papo de excelência com skins a gosto. Aí ganhei o apelido Fénix, que coloquei a seguir a Roberto, por cair várias vezes consecutivas no BrasNet. A mitologia passava também pelo, por vezes, grande lag, os fantasmas do IRC, o grande terror desconhecido... Mas se houve algures um centro comunitário mais cheio de micronacionalistas lusófonos tanto em quantidade como qualidade, esse era o IRC e a Brasnet e os seus vários canais.

O meu interesse mais histórico (que me levou anos depois a fundar este Instituto Histórico e Geográfico) levou-me então a abrir a Universidade de S. Luís, na minha cidade de Faro, no reino dos Algarves. Era uma universidade privada, cujo principal ponto de interesse era a biblioteca de pdf que eu montei no site que fiz na Terravista, site de alojamentos grátis da altura. Também queria fazer cursos, mas isso foi coisa que sempre me iludu. Curioso, porque o meu maior falhanço micro sempre esteve naquilo que faço macro, sou professor de línguas modernas, português e inglês, e também latim.

Em Outubro de 2003, fiz-me ao grande bife, tão bom como depois mau, aceitei ser Ministro da Educação e Cultura. Passei à gerência! À chatice eterna de ter que estar atento à lista e fazer um trabalho, porque senão ninguém vai fazer. Contactar novatos em off e todo um novo leque de responsabilidade, além das minhas empreitadas privadas.
Nessa altura não havia partidos ativos, mas havia o PDP e o PC, ambos mais ou menos inativos. Peguei nos Conservadores e tornei-me o Supremo Conservador, que era o título estatutário. 

Um pouco depois, quase tudo de enxurrada, fui nomeado Primeiro Ministro e chefe do poder executivo todo. O meu trunfo era muita verborreia e uma etiqueta retórica verbal do século XIX. É difícil ter a certeza, mas ao meus concidadãos e novos amigos eu deveria parecer um fantasma de oitocentos, mas com um maluco por trás da telinha. Além disso, era o único tuga entre brasileiros. Aliás, sem exagero, nessa altura não havia mais de 3 ou 4 portugueses activos na lusofonia toda (era capaz de haver mais no mundico anglófono e francófono, mas havia quase zero ligação entre mundicos). Depois, o Filipe Pombo, que estava em Sofia - era barão e tudo, já, voltou a RUPA e a coisa ficou mais equilibrada. 

Mais do que isso, RUPA ficou com dois portugueses ativos, o que era mais dois que a vasta maioria das micronações da altura. E quantas micronações... dezenas de micronações ativas e com pelo menos 3 cidadãos. Se Sofia, Reunião, Porto Claro (e Pasárgada, mas Pasárgada era um micro incomum) dominavam, com dezenas de cidadãos e províncias maiores que a maioria das micros, tínhamos depois Havana, Westerland, Normandia, Kerlterspuf (uma one man que valia por dez cidadãos), Açores (de onde RUPA nasceu aliás, mas isso eu não assisti) e tantas mais que me esqueço agora. Havia de tudo: comunistas, monarquias absolutistas, meio-absolutistas, constitucionais, artísticas, de todas as culturas do mundo, além de períodos históricos. Algumas eram no espaço, algumas até bem longe do nosso sistema solar. Havia escolha a rodos e a única coisa que chateava era querermos uma, mas a micro ter caído na inatividade e não se poder usurpar a coisa, sem grandes negociações e andar atrás de pessoal que já nem estava ativo no mundico.

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