Subsídios para a História de Portugal e Algarves: de junho de 2002 a agosto de 2003
Jorge de Bragança e Feitos, UP- EG S. Luís/IHGPA, 2006
INTRODUÇÃO
A vida de uma micronação, apesar de se situar num contexto particular,
releva sempre da vida macronacional dos seus cidadãos e
impulsionadores. Assim, apesar de existir a convenção dos 4 meses macro
constituindo um ano micronacional, a mesma só faz sentido como
convenção, mas desprovida de carácter operacional, no sentido em que o
ciclo é anual e corresponde à vivência macronacional dos cidadãos.
O que pode parecer uma questão de pormenor é fundamental para a
compreensão da história de Portugal e Algarves enquanto micronação, que
se acha bastante influenciada por estes ciclos anuais e que ajudam a
constituir uma periodização adequada ao estudo em questão.
Este texto visa analisar o primeiro ano de vida do Reino Unido de
Portugal e Algarves e os seus condicionalismos, tendo em vista a
periodização da sua História.
PERÍODO 1 - Fundação e Arranque (junho de 2002 a setembro de 2002)
Fundado por aquela que pode ser conhecida como Ordenação
Régia (ou Real) I , de 22 de Junho de 2002, Portugal e Algarves nasceu,
para todos os efeitos, a partir de uma corrente dissidente do Reino
Unido dos Açores, liderada por um açoriano proeminente, Felipe D’Feitos,
líder conservador e militar micronacional. Os Açores eram, e são ainda,
uma micronação bastante inspirada no imaginário lusitano, o que destaca
mais ainda o sentido de continuidade que Portugal e Algarves
interpretou em 2002.
Durante os primeiros 3 meses da sua existência, não existiu
grande actividade, podendo mesmo ser dito que, a nível da lista
nacional, não houve mesmo alguma:
Número de mensagens (lista Expresso Lusitano):
Junho/2002 – 4
Julho/2002 – 0
Agosto/2002 – 0
Setembro/2002 – 25
Encontramos aqui uma das principais
tendências cíclicas de Portugal e Algarves, que é ter verões europeus
extremamente pobres em termos de actividade, comparando com outros
períodos do ano. Assim se poderá considerar ter sido uma péssima ideia
fundar a micronação mesmo antes do verão. Daremos atenção a esta
característica mais à frente neste texto.
Assim, só em Setembro, cerca de 3 meses após a fundação,
Portugal e Algarves começou a ter actividade efectiva e palpável. Daí
até ao final do ano, a actividade organizativa por parte da Regência
pautou-se por uma actividade constante, embora parte das ordenações
reais tenham sido publicadas em Outubro.
Este período, que chamarei de Fundação, ocupa, a meu ver,
não apenas o acto de fundação da micronação por si mesmo, mas todo o
período até Outubro, que constitui o mês da consolidação, em que o
regente põe finalmente no papel as Ordenações Reais que estabelecem o
núcleo institucional e político do Reino Unido.
Durante este periodo e por mais um ano, Portugal e
Algarves é visto como uma micronação pequena e pouco expressiva, mas que
mantém o capital simbólico da experiência do seu fundador que, ao
contrário de muitos dos fundadores de novas micronações, já havia
mostrado serviço e competência nos Açores, uma das grandes micronações
do seu tempo.
PERÍODO 2 - Consolidação (outubro de 2002 a maio de 2003)
A partir de Outubro de 2002, Portugal e Algarves passa de um
estado de fundação para um estado de consolidação, caracterizada pela
entrada de cidadãos e pela visita de turistas e alguns diplomatas amigos
.
É importante referir que apesar de serem três os fundadores
iniciais de Portugal e Algarves (D. Felipe, D. Raphael e D. Thiago,
todos D’Feitos), a micronação foi essencialmente um projecto de D.
Felipe D’Feitos, trazido dos Açores. Embora o papel de D. Raphael seja
importante, esta característica é vital para compreender Portugal e
Algarves, na medida em que principiou por ser um projecto de um homem
só. Se tal caracaterística pode ser superficialmente vista como
potencialmente negativa, a verdade é que poderá ter salvo a micronação,
dada a personalidade combativa e persistente de D. Felipe.
Em Dezembo de 2002, o número de mensagens da lista nacional
dispara para a afirmação de uma actividade diminuta, mas constante,
indicando que o período de consolidação se começava a desenhar:
Número de mensagens (lista Expresso Lusitano):
Outubro/2002 – 98
Novembro/2002 – 56
Dezembro/2002 – 138
Janeiro/2003 – 196
Fevereiro/2003 – 294
Março/2003 – 99
Abril/2003 – 146
Maio/2003 – 86
De facto, até Abril de 2003, nota-se uma
grande actividade em termos de legislação produzida, que primando pela
pluralidade de sectores intervencionados, revela a diversificação da
sociedade micronacional portuguesa e um relativo crescimento. Várias
concessões de vistos de entrada, nomeadamente diplomáticos, revela uma
actividade crescente, assim como nomeações de autoridades nacionais.
No entanto, as duas características portuguesas-algarvias
já enunciadas – a quebra cíclica no verão europeu e a dependência
nacional na figura de D. Felipe – anunciaram, logo a partir de Maio de
2003, uma crise que pararia Portugal e Algarves por completo e que
levaria, pela saída de cidadãos importantes, à ameaça de extinção do
Reino.
PERÍODO 3 - O Verão ou Agosto Negro – A conclusão do 1.º Ano (de junho de 2003 a agosto de 2003)
Esse verão europeu de 2003 testemunhou o período mais
negro de Portugal e Algarves, não só pelo reduzido número de mensagens
na lista nacional, mas fundamentalmente pela total paragem das
instituições e posterior sangria de importantes cidadãos. Portugal e
Algarves parou totalmente e os que ficaram na lista, ficaram apenas por
ficar, como tantas vezes acontece no micronacionalismo, sem actividade
visível. Deixarei que os números falem por si:
Junho/2003 – 4
Julho/2003 – 1
Agosto/2003 – 8
Saltamos pois de 86 mensagens em Maio/03
para 4 em Junho, e uma apenas em Julho. Não é dificil especular sobre a
paragem total das instituições e a sangria de cidadãos. No entanto,
transcrevo na íntegra aquela única mensagem de Julho, da autoria de um
dos cidadãos importantes daquela altura (e de agora...):
De: "Filipe Pombo" <filipe.goncalves@...>
Data: Qua Jul 2, 2003 4:23 pm
Assunto: Re: [expresso_lusitano] Saida
É com imensa pena que renuncio a todos os
meus cargos do Reino Unido de Portugal e Algarves. Esta renúncia deve-se
a esta nação estar sem vida, Talvez também por culpa minha. Sendo assim
desejo as melhores sortes para os restantes cidadãos.
É impossivel Existir uma micronação que não tem o seu
regente activo. Sendo assim peço para que me retirem da lista.
Saudações
Filipe Pombo Gonçalves
Esta foi a única mensagem de Julho e
reflecte perfeitamente o que tenho vindo a afirmar. Total paragem das
instituições e sangria de cidadãos.
Apesar do quadro negro traçado durante este gravíssimo
período da história nacional, considero que o mesmo apenas confirma a
regra e que foi fruto das características particulares do Reino Unido.
Também, o período anterior da Consolidação, pelas suas características
erráticas e pouco profundas, não permitiu que a micronação pudesse
escapar à grande influência do regente D. Felipe D’Feitos.
Guardarei para um outro texto uma das questões mais
importantes da história de Portugal e Algarves e que poderá lançar mais
luz sobre uma das características fundamentais de RUPA – o
Constitucionalismo latente, desde o fracasso das primeiras Cortes
Constituintes até ao sucesso relativo das segundas Cortes, das quais
resulta, finalmente a Constituição, que iniciará um processo, inacabado
ainda, de maioridade de cidadania.